sábado, novembro 19, 2022

tenho frio


 

estou com frio

a carne rasga-se, sangra.

estalam os ossos,

não querem ficar de pé


o luar tem o privilégio de passear na noite fria

vejo-o da janela do quarto

as sombras hoje são marionetas articuladas,

sigo-as com o olhar agitado


há um vazio enorme, perdido,

o frio grita na minha alma, no meu olhar


hoje tenho frio, faltam-me as tuas palavras


helena maltez

segunda-feira, novembro 07, 2022

sentires...


 

sentires!



acordas junto à sombra dos sentires

perdido no movimento azebre,

fulguras da tristura ocasional

de um tempo passado

sem prazer.



suave na sua mudez,

a terra olha-te em silêncio.



escutas a voz do perigo

entre o bem e o mal,

consegue pousar

do lado da luz

no frio que te dá ordens



do coração saltam feridas

devoradas pelo infinito



já nada sentes

embriagado na música inaudível,

expeles do teu corpo uma seiva amarga,

e imploras para renascer

de um ventre sem rosto




aguardas na praia que a maré vaze,

encontro-te...




dou-te a minha mão!



helena maltez

quarta-feira, novembro 02, 2022

melodia

 

melodia



soletrei as palavras

uma a uma

caminhei sobre elas

sem pressão

entre uma melodia perfeita

do som da minha rua

gravo os reflexos

escuto o eco

inesperado

o relógio canta

a voz é frágil

mas sem medos.

num olhar a miragem

espelhada no perfeito oásis

tacteio palavras

ocultas na penumbra de uma quimera

invento perfis numa tela

e no silêncio de uma praia

sai de mim o sonho florido

as asas das gaivotas fascinam-me

dançam Mozart num palco invisível

              

      

helena maltez 


domingo, outubro 30, 2022

bebi o frio

 

bebi o frio

hoje o dia não teve o sabor de outono/inverno
o sol foi de inverno.
para me aquecer por dentro
deambulei pelas avenidas,
em busca de uma voz,
a tua.
continha frio na alma.


tinha sede de ti.
queria saciar aquela secura,
com a tua voz.
a secura me cortava a faringe,
bebe-la até ficar farta.



rasguei a visão
e sem folgo
emaranhei-me nas linhas do dia.
os gestos moldavam a solidão,
toquei a tua ausência
e o folgo foi desejo da tua ternura.



perdi a idade, os meus 18 anos
arrefeceram, resvalaram no teu corpo
só existe o murmúrio de um amar
em palavras guardadas por mim



já tudo me falta
até o ombro infindável das ilusões



e a saudade existe por termos estado juntos.



helena maltez


sábado, outubro 29, 2022

vida


 


vida



o dia chegou puro.

os olhares falavam num silêncio

onde as palavras tinham todas um nome

e a eternidade se fechava sobre um corpo

parado nas águas, entre os espaços

para assistirem ao nascimento das árvores

o grito do verão ressoava entre formas mudas,

delicadas, impregnadas de delírios imaginários.

alguém parte o silêncio e o transforma

em sons vergados, sensíveis às palavras vivas,

atrás fica uma vida, remexida desalmadamente

numa leveza, estrangulada entre dedos

olhares bailam enfeitiçados sobre as áscuas…

murmuram ao longe, frases ríspidas e frias

o vento arrasta soprando as vozes em pedaços,

agarrando a vida, que deseja invencível

lento, leve e moroso deixa respirar o dia.

mergulha na alegria suplicante da voz

onde ardem, na alma, chamas de desejo

assumido num jogo de amor único

escapa-se o pensamento, afunda-se

dentro da paixão voraz,

espelhada no sorriso dum peito aberto

o fio liga a veia, no abraço da morte

triunfante, a festa tornou-se imortal,

sufoca de júbilo,

entre palavras que passam a correr

o momento, amadurece na terra

cativo do nome que persegue…

helena maltez

 

terça-feira, outubro 25, 2022

abrigada em ti...


 

a rocha vestida de algas

serve de repouso,

e ali te contemplo meu mar.

vejo-te numa vastidão sem limites

enquanto me salpicas os pés descalços

parecendo carícias amistosas.

na tua cor azul dourado e transparente

procuro decifrar um nome oculto

como se ele pudesse chegar até mim,


junto de ti, místico mar,

deixo-me prender pelas gaivotas

enquanto dançam misteriosas,

e espero a voz,  companheira

de um tempo,  sem tempo.


mar, conheces bem o segredo

a dor que agora existe

onde outrora testemunhaste alegria.


escuta as minhas palavras,

sente a solidão que há em mim..


a voz é dorida, carrega suplicas,

o caminho arrasta o silêncio que fala

conto os minutos na ausência inesgotável

e o sonho tem a forma de um rosto.


sem guarida abrigo-me dentro dele

como a sede de uma miragem!




helena maltez


segunda-feira, outubro 24, 2022

silêncio de um caminho


 

o silêncio de um caminho

     

um trocar de palavras em silêncio
um sentir sem olhar...

    

a tua pele sabe a sal

descanso repousada no teu corpo

bebo da tua boca

e estreitavam os nossos lábios

           

quero os teus braços nos meus

e sinto as sombras de árvores e flores

     

afinal és terra na paisagem que descanso,

de mim já nada quero

só um tempo a andar comigo,

sem abrigo escondo-me da ocasião

     

o corpo já não espera por ti

não conhece e não vê nada


fica a luz do teu caminho... a saudade que em mim existe!


     

helena maltez

a colheita da hora


 

a colheita da hora

                      

             

à beira dos degraus

equilíbrio nomes,

aromas, datas vestidas

marcas leves

estruturas cimentadas.

                                

              

o café da manhã

foi imagem distorcida,

emoção suspensa,

ideias místicas.

                             

                

encostado à parede

és gesto de silêncio,

na sombra de tantos invernos

rosto frio de um janeiro denso

cruzado no mar de todas as horas

onde desprendo o olhar.

                        

          

importante é beber e respirar

até ao fim da confluência da mistura dos azuis

entre tantos céus onde as nuvens partem sons

e engolem o pó que escrevo

na distância do limite do tempo

                            

                 

caí à terra a semente e no tempo

o fruto será colheita…

               

                    

helena maltez

  o teu sorriso no esplendor de uma suave explosão chega a mim o teu sorriso. aflui com emoção e calor, como sonhos mesclados nos en...